quinta-feira, 12 de junho de 2008

o canto das sombras

o guarani entoou
seu cântico
como um pássaro
livre de gaiolas:
‘o melhor de sabermos
da face escura da lua
é que ela existe pelos raios da grande estrela’

E o poeta falou
com o canto de seu pincel:
uma sombra só existe
pelo corpo que reflete a luz

peças de verão

De repente
onde estão?

o calor continua quente
quando o frio não gela o peito

as lousas claras, lisas
os riscos apagados

biquínis em cabides
na tv

elas de terno preto
de retos cortes e ombros altos

a cozinha já há tempo em silêncio

mas queria vê-las nas praças
mesmo que a fome me atormentasse

mas o que amedronta
é não mais tê-las, musas

A escolhida ou duas, três
imaginar o amor que sei é não meu

meu é o desejo de vê-la novamente

e por-que

breve mensagem
não deixa notícia

faz um sinal
reza uma prece

o carro que passa
o pingo que pinga

longe da janela
vergonha de Carlos

parece que a vida
depois de Drummond
ficou ainda mais besta

o rato bem-amado

Quando soube do rato
ela logo tomou providência
(eu bem que tentei adverte-la)
Foi sensata
(e coerente)
quando pois o veneno para o bichinho

Mais coerente foi
com seu sentimento
(pois mentira quando disse que o temia)
Colocou-lhe um baita pedaço de queijo
ao lado do veneninho

as cordas

os cadarços dos sapatos são as cordas mais sérias
que a corda da forca quando frouxa
as cordas de um instrumento só tem graça quando alongadas
as cordas do cabresto servem para conduzir o bicho
são as cordas que estão entre o homem e a jangada
cordas enlaçam os amantes
cordas formam redes, de deitar e fazer gol