terça-feira, 1 de dezembro de 2009

josé

Com as letras do teu nome

e a lembrança da tua cor

Sofejo refrões, refaço amores, rimas

E me reinvento um quase lírico

Do resto do que a gente se torna a cada dia

Faço verso e me reinvento na poesia de uma tarde

Onde a aurora ainda se guarda e se faz dia para noite

Dessa noite que já não sei quantos homens ainda são verdade (ou entrega aos amores)

Ou quantos levam o segredo de sua dor

Quando a espera é feita em verbo e os instantes mais fluidos

Toco o lábio e o desejo de cantar a solidão

E ainda o desejo dos sonetos ainda não escritos

Forrando de estrelas outros versos, os que em mim ainda virão

Com letras de um nome nunca em mim pronunciado

Me faço de palavras como é de pedras a estrada

que se faz pelo tempo já escrito na canção

domingo, 15 de novembro de 2009

do corpo de Cristo

Saías desperta ao alvorecer das flores

Quando o sino da igreja emudecia o coração dos homens

E as crianças brincando na praça cantavam teu viver

Eras moça quando os pêlos mais negros

Despontavam em meu peito

Menina foste quando me vi nos teu olhos

Que fitavam a flor daquele jardim

Que nos acolhia numa manhã de domingo

Guardado pelo sabor dos homens

Quando as verdades dos sermões

Coagulam uma atmosfera de lembrança

Tocavas minha ferida

E como que cicatriz

Prometias ser em meu corpo

Já marcado de desejo

O elixir das minhas angústias juvenis

coração de menina

do seio da pétala
fazes teu sorriso
do veludo que nela sonhas
transparece teu hálito

és do ato a abelha
encanto dos corações duros
que te trazem o leite
e o peixe do rio

o ar que tu respiras, menina
é em si uma promessa
pois o coração de menina
é o sacrário do amor do homem

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

o coração de uma boiada

o segredo do poeta
é não fazer sua melhor poesia
enquanto uma melhor não lhe surgir...

essa não seria escrita
não fosse o lugar de onde venho
mas o sertão é minha água
como é de chuva que ele se refaz...

Às marcas da boiada
o garrote se faz
mesmo às cercas e cercados

mugido de gado, brilho de estrela
ungido de seu canto
o amor da fêmea


faz-se par

anoitece o dia...

feneceria o feno
não fosse sua fome
e um estômago que sabe curtir

o garrote é conduta em potência
- mais respeito seu menino


Daqui a algum
vai ser seu braço e o olhar
A fazer o coração de uma nova boiada

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O que tenho a dizer
estava escrito e não li
O que tenho a dizer
ainda vão editar
O que tenho a dizer
está cravado no chão
O que tenho a dizer
está plantado no ar
O que tenho a dizer
se repete já ouvi
O que tenho a dizer
não cansou de escutar
O que tenho a dizer
está calado na flor
O que tenho a dizer
está gritando de dor
O que tenho a viver
é a pedra no chão
O que tenho a viver
é o tao e o cipó
O que tenho a viver
é o vinho e o pão
O que tenho a viver
grão de areia já é

domingo, 28 de junho de 2009

A arrebentação toca o recife

O espírito do mar quer profanar seu sal
Enquanto a areia da praia
Anuncia o rio que teve seu tempo só
Ai, quantas promessas esse leito não carregou?
Salubre prisma, o teu solo prometeu
Espelho d’água hoje reflete o caos
Que o cais de um colo sagrado de mãe
Levou à clareza de Deus
Ó pai, oceano não és solo, chão
És em meu peito universo

terça-feira, 23 de junho de 2009

A ave de rapina

Voa seu vôo menina!
Canta seu canto (um quase grito)
Que ativa o que te recobre
Tetas, manto ou plumas
Saias feitas pelo gosto de ser filha
do chão - sinto a força do que em seu seio é belo;
um sentir que paira e se prova num flutuar denso de uma pena caindo
A saber menina:
O céu não guarda segredos;
A chave de quem o guarda é o símbolo do seu mistério
Igreja do meu ser

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sonhando

Queria compor algo sobre a flor
Queria dizer sobre aquilo que sinto
E talvez tocar toda a força que tens
Textura que o tempo escolheu para amar

Delicada és mais do que eu posso encontrar
Um mistério pedindo pra se revelar
Pois é o tempo ó flor o que rege teu ar
Instante que me fez poder tocar
A essência que habita
O lugar de onde vens

Minha loucura, pois
Terra da mãe do homem
Onde já não me encontro
Embriagando de ternura a delicada face da pétala
que equilibra em gotas a própria embriaguez

Eu que não te acompanho, pergunto
Tu que és o guia, por onde andas?

Neste teu silencio
Em que minha espera se faz verbo
minha estrada se faz carne
(e meu desabor busca alento em um beijo)

Guiado fui enquanto te esperava
Quando a aurora ainda era o brilho deste amanhã
Agora, agora iria além daquilo que por mim me foi prometido

Tocaria-te a pele e os lábios
Que a grama orvalhada proclame graças e glórias
Ao infinito amor que o céu tem a essa flor

sexta-feira, 3 de abril de 2009

âncora mineira

Me encontras onde já não me sei
Na minha solidão falas do que fui
Quando tuas manhãs contam meus afetos

Quando te encontro sou teu colo
Quando faço dia o entardecer
Pra que possa guardar mais um sonho

Descalça tua alma no meu pensar
E te despe desse dia com a certeza
de que serei ainda mais feliz
compondo de estrelas
o remanso do teu mar
onde salga o São Francisco
e onde a lua vem dizer
que o repouso calha
lá onde da fonte fez-se sonho

No grosso de seu leito
No destino dos que o habitam
pois as pedras do seu fundo

aguardam outros encontros

quinta-feira, 26 de março de 2009

da brisa especular

o vento e o papel do poeta
dele que se escreve em vida
num mundo onde a letra seria apenas um ponto
mas, sabe-se, ponto é tempo em esperança

andar no vento só a passos curtos
para que haja tempo de sensibilizar o toque
o poeta escreve
e faz do verso ou da linha um encontro

resta à brisa o acento do pai
e o silêncio que tanto diz
quanto o findar da folha que se desagarra
e quase tocando o chão grita o canto da ave

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ao chegar a colina
Vi-me gaivota no mar

Litoral
rio se salgando
remansos

Vivo me fazendo em vidas

de certo uma ave, talvez colibri, lance seu canto

e anuncie pelos meus versos

os limites do que sonho.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Sangue de chumbo ou soneto particular

Depois de despossuído
da tarde plúmbea
relia em minhas veias
as letras do seu abecedário

Zinco e cobre
suas madeixas
seus elementos
de mulher oriental

Quer do indivisível átomo
Uma partícula secular
Instante em porção

Fez de mim e em mim
Todos os nomes que quis
Ademais, confesso, restou-me apenas o seu

A volúpia da letra

voluptuosa é a letra
quer desdenhar e seduzir
a vontade de querer bem
voluptuosa é a letra
quer resposta imediata
como se destemido
pela vida
pudesse (eu) alcançá-la
sua fugacidade é veloz
pela própria voluptuosidade
a sensualidade de seu som
contém canto de sereia
lascívia até a sílaba
quer comover-me o cativo coração

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O circo, o palhaço e o leão

A tenda, seu céu
Estrelas estampadas num celeste
cor de lembrança

Risca no chão um circulo
e faz dele o seu teatro

Circo é coisa séria
Todo domingo tem
e o leão aguarda a próxima chance...

Há algo, no mínino, de estranho
ver um palhaço rir de verdade.

Há! Gosto de cão!

12:20pm da última quarta-feira, dia 25 de agosto de 2004. Lanchonete do prédio de engenharia cheia.
Quando as mesas fixas estão ocupadas, as pessoas se acomodam nas mesas de plástico, distribuindo-as na grama.
Várias são as opções no cardápio;
- torta de frango,
- macarrão com frango ao molho branco,
- lasanha de frango...
são algumas das várias para os vários gostos.
Temperatura agradável. Nesse horário, pelo menos em agosto, o prédio de engenharia faz sombra naquele gramado.
Eis que surge um ; Daqueles vira-latas bonitinhos que circulam na universidade.
Esse, em especial, era, umagracinha: porte mediano, pêlo rajado, olhos afáveis. E as orelhinhas? Jamais havia visto algo tão amistoso como aquelas orelhinhas caídas, curvadas para frente.
As pessoas que passavam compartilhavam, com um sorriso, aquele momento em que aquela doce criatura me olhava, e esperava um gesto de compaixão com sua fome.
Sigo almoçando. E em um momento me dou conta que aquele cãozinho havia saído dali.
É que, do nada, o cão retorna com uma rolinha na boca.
Pomba!
A princípio as pessoas nada diziam. Mas seus olhos indicavam algo.
Escuto uma voz: - Ele achou o almoço dele.
A partir daí, todos comentavam horrorizados:
- Vou para outra mesa, longe daqui!
E o cachorro a estraçalhar a rola...
- Credo, que nojo!
E o cachorro a dilacerar a rola...
- Eca! Perdi o apetite!
E o macarrão esfriava... o queijo esfriava... o molho esfriava...